Com o encerramento, pelas autoridades argelinas, do seu espaço aéreo a todas as aeronaves civis e militares marroquinas, aumenta o nível de tensão entre os dois Estados, agravando uma difícil situação diplomática que pode degenerar de forma perigosa. A questão entre os dois Estados do norte da África diz respeito à situação do Saara Ocidental, ao sul de Marrocos, controlado pela Frente Polisário que luta pela independência do governo de Rabat, reivindicando a soberania dos territórios habitados pelo povo sarauí e por este motivo reconhecida pelas Nações Unidas, como legítima representante dessas populações. Esses territórios incluem enormes depósitos de minerais e fosfatos, um material usado para fertilizantes, que é a verdadeira razão pela qual Marrocos se recusa a conceder à Frente Polisário um referendo de independência. Para remediar a situação da anexação destes territórios por Marrocos, ocorrida nos anos setenta do século passado, a Frente Polisario decretou o nascimento da República Árabe Sarauí Democrática, cujo governo no exílio está sediado na Argélia, que, de facto , tornou-se o país patrono desta causa. O país marroquino é apoiado pela sua causa pelos EUA e por Israel, isto em consequência da promessa de Trump de apoiar Rabat em caso de reconhecimento do estado israelita, pelo que Washington reconheceu a soberania de Marrocos sobre os territórios reclamados pela Frente Polisário; recentemente, a Argélia foi atingida por fogo pelas forças armadas marroquinas, que operavam com um drone de fabricação israelense. Rabat, ao longo do ano, abriu duas crises diplomáticas com países europeus: a primeira com a Espanha, por ter acolhido um líder da Frente Polisário para lhe dar tratamento médico, a segunda com a Alemanha, que definiu o Sahara Ocidental como território ocupado por Marrocos e ter solicitado às Nações Unidas uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para solicitar a realização do referendo sobre a independência do Sahara Ocidental. Marrocos respondeu a estas solicitações internacionais contra-atacando com uma ação contra a Argélia, pedindo às próprias Nações Unidas o direito à autodeterminação da região argelina de Cabília com uma maioria berbere. Argel já havia classificado o movimento que apóia a autonomia da região berbere como terrorista islâmico e a não retirada da proposta marroquina resultou na retirada do embaixador argelino em Marrocos. Contribuindo para essa tensão diplomática estava a descoberta do uso de Rabat de um software israelense capaz de espionar autoridades argelinas e o suposto envolvimento marroquino nos incêndios que devastaram o norte da Argélia e causaram pelo menos noventa vítimas. A suspensão dos voos com bandeira marroquina sobre os céus da Argélia pretendida pelo governo de Argel insere-se neste cenário de respectivas grosserias, que denotam um confronto de baixa intensidade militar, mas com elevadas tensões diplomáticas, que afectam também as relações económicas: após a retirada de o seu embaixador Argel anunciou a interrupção da exportação do seu gás para Espanha através de Marrocos: para Rabat isto significa uma perda entre 50 e 200 milhões de euros, devido à quota de 7% do valor total do gás que chega ao território espanhol; e a proibição de sobrevôo também afeta a indústria turística marroquina, que viabiliza o desembarque em seu país por meio do tráfego aéreo. Ao nível de uma análise global da região do Sul do Mediterrâneo, há o receio de uma maior desestabilização, que, se somada à situação da Líbia, onde a guerra civil também se estendeu ao Mali e envolve grandes potências, mais ou menos diretamente, pode levar toda a faixa costeira a um estado de incerteza que poderia se refletir nos países europeus ribeirinhos do Mediterrâneo; além disso, o radicalismo islâmico pode aproveitar esta situação como uma oportunidade para se infiltrar nas crises locais e explorar as migrações descontroladas para chegar ao Ocidente. De facto, não se deve esquecer que um dos meios, embora não novos, utilizados por Marrocos para exercer pressão sobre a Espanha, foi precisamente o de deixar as suas fronteiras descontroladas para favorecer um fluxo migratório para o país espanhol. Esta situação é também o enésimo confronto dos EUA com a União Europeia, cada qual apoiando os contendores adversários, sublinhando a profunda divergência de pontos de vista que surgiu no campo ocidental.
Nessun commento:
Posta un commento