Com seus índices de aprovação em queda livre e as dificuldades econômicas autoimpostas pelas tarifas, o presidente dos EUA, Trump, precisa buscar melhorar sua imagem com resultados políticos internacionais. O objetivo seria garantir algum tipo de acordo sobre a guerra na Ucrânia, se não uma paz definitiva, pelo menos uma trégua inicial que permita o avanço adequado das negociações. Sinais de otimismo vêm de vários setores, desde os próprios negociadores americanos até os líderes finlandês e turco, e, em certa medida, até mesmo do presidente húngaro; no entanto, o embaixador russo no Reino Unido afirmou que não há um texto de paz com Kiev, apenas a rendição da Ucrânia. O plano acordado entre os EUA e a Europa contemplaria quase 80% dos pontos apresentados, com a possibilidade de uma mudança na lei marcial para permitir a realização de eleições. O maior obstáculo, porém, continua sendo o desejo da Rússia de assegurar toda a região de Donbass. Para Putin, somente essa condição lhe permitiria alcançar algo próximo da vitória, mesmo sem essa conquista ser obtida militarmente. Este objetivo é irreconciliável com o sentimento comum do povo ucraniano, que, em uma pesquisa recente, expressou 75% de oposição à retirada de Donbass, território que consideram parte de sua nação. Essa é a base da recusa de Zelensky em ceder até mesmo às exigências americanas, que veem a cessão de Donbass como a principal razão para o fim das hostilidades. Washington considera uma solução alternativa, que prevê a transformação de Donbass em uma zona desmilitarizada, sem a presença de tropas russas e ucranianas. Kiev só aceitaria esse modelo com a presença de militares estrangeiros em Donbass; essa opção é rejeitada por Moscou, que só aceitaria a presença de sua própria polícia e Guarda Nacional no lugar do exército russo: uma solução totalmente indesejável para Kiev. Outro ponto de discórdia é o plano de congelar a atual linha de frente, apresentado conjuntamente pela União Europeia e pela Ucrânia. Para a Rússia, ainda muito atrasada em sua expansão para o oeste, essa solução equivaleria a admitir a derrota. Apesar do enorme esforço militar e do grande número de baixas — estima-se que cerca de um milhão de soldados russos —, o Exército Vermelho enfrenta dificuldades e avança lentamente, enquanto as previsões para a economia russa em 2026 apontam abertamente para um possível colapso. Há ainda o problema da disposição de Kiev em garantir uma garantia pós-guerra, seja quando e como ela vier. Para a Ucrânia, a melhor solução seria a adesão à Aliança Atlântica, capaz de evitar quaisquer novas ambições de Moscou. No entanto, a Rússia rejeita categoricamente essa solução, e os ucranianos exigem a adoção de um mecanismo equivalente ao Artigo 5 da Aliança Atlântica, mesmo fora da própria Aliança. Kiev precisa de garantias concretas, visto que sua independência e soberania, assinadas pelos EUA e pela Rússia em 1994, não foram respeitadas no Memorando de Budapeste, assim como o acordo que estabelecia que a Rússia jamais invadiria a Ucrânia não foi respeitado após Kiev devolver todas as suas ogivas nucleares a Moscou depois da dissolução da URSS. Há ainda a questão dos ativos russos na Europa, que, segundo Bruxelas, deveriam ser usados para a reconstrução da Ucrânia, e que, por outro lado, os EUA gostariam de controlar: o plano da UE é que Kiev se junte a Bruxelas em 2027, e esse fato, que a maioria dos ucranianos aprova, pode se revelar um obstáculo necessário, mas difícil de ser aceito pelo Kremlin.
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